Carlos Pinto e Torquato Neto
Três da madrugada, quase nada
A cidade abandonada
E essa rua não tem mais nada de mim
Nada
Noite, alta madrugada
Nessa cidade que me guarda
Que me mata de saudade
É sempre assim
Triste madrugada, tudo e nada
A mão fria, a mão gelada
Toca bem de leve em mim
Saiba:
meu pobre coração não vale nada
Pelas três da madrugada
Toda palavra calada
Nessa rua da cidade
Que não tem mais fim
* * *
Quando há muitos anos, voltava para casa, numa noite úmida e fresca como a de hoje, costumava ligar o som do meu carro e ouvir essa canção linda, interpretada por um grupo que não mais existe, chamado Nouvelle Cuisine.
Quando voltava para além das três da madrugada, ouvia uma outra, da Dolores Duran e do Tom Jobim, chamada Estrada do Sol.
É de manhã vem o sol
Mas os pingos da chuva
que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre
Que me traz esta canção
É de manhã vem o sol
Mas os pingos da chuva
que ontem caiu
Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre
Que me traz esta canção
Quero que você me dê a mão
Vamos sair por aí
Sem pensar no que foi
que sonhei
Que chorei, que sofri
Pois a nossa manhã
Já me fez esquecer
Me dê a mão
vamos sair pra ver o sol
Naquela época, talvez fosse recorrente voltar para casa no tempo chuvoso, também chuvosa por dentro. Meus problemas eram de outra ordem e lembro-me bem de me sentir com mais freqüência triste do que atualmente. Era a tristeza da adolescência, da ansiedade do que estava por vir, da incerteza do amor.
Hoje eu ainda choro. Acho importante conservar esse sentimento, para nunca ter a dificuldade em distinguir uma situação feliz de uma triste. Há adultos que se tornam indiferentes a tudo, o mundo, para eles, é monocromático.
Minha tristeza não é de adolescente, mas é provável que aconteça pela mesma razão. A ansiedade do que está por vir e a incerteza do amor.
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3 comentários:
Oi, Elis. Eu sei que você está triste e isso é uma coisa ruim, muito ruim. Nós não temos intimidade, então não tenho escrito a respeito disso, embora fique sempre tocada com os seus textos. Mas, não posso deixar de dizer que você escreve tão bem sobre a sua tristeza, que ela até fica bonita na sua narrativa. Bonita como um dia de chuva, que é triste (melacólico, pelo menos), mas muito bonito. Um beijo. Clio.
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