segunda-feira, julho 12, 2021

A pracinha

A pracinha tão bonitinha

Cheia de flores, de jardim

De cuidados especiais.

Idosos falantes reunidos,

Cães bem alimentados,

Crianças alegres e banhadas.

 

Pais e mães zelosos as vigiam.

O balanço funciona sem parar.

Revezamento de crianças.

Algumas babás as acompanham.

As crianças menores e as mães,

Vizinhos se cumprimentam.

 

Às vezes jogam conversa fora.

Bicicletas e atletas se ultrapassam.

Alguns estacionam e passeiam.

Outros vão à padaria lanchar.

Tem até ioga no tapetinho

bem cedinho da manhã.

 

Todos se divertem de manhã, 

de tarde e de noite (até às 20h).

É tão democrática a pracinha.

Tem tanta sombra, tanto pássaro,

tanta grama, nem tem mato.

O caramanchão de lá é lindo.

 

Às 20h01 (é quase um exagero), 

Bem educadas, olham para a direita

e esquerda, algumas ainda no colo.

São as crianças pobres pretas

pedindo licença a um suposto dono

da pracinha bem cuidada.

 

Sobem na casinha de madeira,

escorregam, algumas se balançam

outras preferem a gangorra. 

Estavam na calçada, no sinal.

Pediam dinheiro e comida alguns

instantes antes das oito da noite.

 

Entram como se não tivessem direito.

Nos bancos da pracinha,

as mães tornam-se rainhas.

Elas descansam enfim,

longe do perigoso olhar medroso,

sem chance de serem confundidas.

 

Alegres conversam entre si, 

as mães e pais das crianças pobres.

São ex-pedintes do semáforo, 

Muitas sem registro ou endereço.

Fazem um lanche compartilhado

Nas mesas para jogar xadrez.

 

Depois de lanchar na padaria,

Às 20h40, atravesso a pracinha

assistindo ao apartheid diário.

Vejo ali a liberdade e a prisão

A sorte deles e a minha sorte

Embaixo da copa das árvores.