domingo, dezembro 24, 2006

Partida

Você está pronto para jogar
O marrom está decidindo
..................desistindo
..................decidindo
..................desistindo
..................decidindo
..................desistindo
..................decidindo
..................desistindo
..................desistindo
..................desistindo
..................desistindo
..................desistindo

E você?
Aguardando outro jogador

sexta-feira, dezembro 22, 2006

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Constatação III

Se eu sou a mulher da sua vida, você é o homem dos meus sonhos.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Você foi para muito longe.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Eu estou gargalhando de felicidade.

Quá-quá-quá-quá
Quem riu
Quá-quá-quá-quá
Fui eu.

domingo, outubro 15, 2006

Sobre comportamento humano e natureza animal

Hoje duas reportagens me chamaram atenção: uma entrevista sobre a mentira nas páginas amarelas de Veja e uma resenha sobre um novo livro de divulgação de Matemática: O Universo e a Xícara de Chá.

Na entrevista ao psicólogo cognitivista, a revista buscava uma só resposta: a que a autorizaria manchetear que é da natureza do político mentir. O pesquisador informava que os que mentem se dão melhor na vida assim como, na natureza, o vírus engana o organismo para dele se beneficiar. E recorreu às inúmeras estratégias de sobrevivência e caça dos animais comparando-as às dos seres humanos quando querem se dar bem, roubando, trapaceando ou blefando.

Esqueceu-se de considerar seres humanos uma espécie diferente da dos animais pela simples capacidade de construir de forma arbitrária e convencional sistemas de comunicação que nos possibilitam falar, mentir, trapacear, criar leis de convivência, além, claro, de comparar o raciocínio humano ao animal e de mostrar as diferenças de ação que se encontram quando estes dois raciocínios são contrastados.

O livro de divulgação da matemática também me chamou atenção. Nele, um jornalista americano apresenta padrões matemáticos que nos ajudam a perceber o que é recorrente na natureza: da concha às estrelas.

Comportamento humano dos matemáticos calculam semelhanças reais.
Comportamento animal não distingue o que é da prática social do que é da natureza animal.

Moral da história: compare aquilo que é passível de comparação.
E isto não é óbvio.

quinta-feira, setembro 07, 2006

meu caso com você ainda não terminou.

je regrettais avant, je regrette encore.
nononon, c'est pas la fin.


qu'est-ce que je peux faire après avoir bu un verre de vin?


mieux de dormir
mieux de dormir
avant la fin


personne me connaît
pourrais-je?

s'il vous plaît.
je vous en prie.

ah bon, l'heure de domir a sonné.
c'est déjà la fin.

quinta-feira, agosto 24, 2006

Constatação II

A esposa é a mais cara das putas.

segunda-feira, agosto 14, 2006

Constatação

O cigarro evita suicídio.

domingo, agosto 06, 2006

Diálogos difíceis XVI: as chantagens do Raul

Na rede, abraçada ao meu filho, depois de tê-lo feito jantar, digo-lhe as seguintes habituais palavras:

-- Oh meu amor, você sabe que a mamãe te ama, não é, meu fofinho? Encho-lhe de beijos e continuo:
-- Porque você é a coisa mais fofa da mamãe, a coisa mais linda que a mamãe ama demais. Mais um desperdício de beijos e a pergunta:
-- E você, meu amor, e você o que sente pela mamãe?

-- Saudade.

quinta-feira, julho 27, 2006

reprovada

ouço o que não quero
faço o que não posso
vejo o que não devo
provo o que não presta
pego o que não vale
sinto o que não vive
visto o que não mede

meus hábitos são condenáveis.

segunda-feira, julho 17, 2006

Otimismo

Eu e outra meia dúzia de privilegiados temos a sorte de dar uma dimensão mais importante e fundamental ao tempo em que somos felizes do que ao tempo em que estamos tristes. Como alguns poucos escolhidos direi na minha velhice, se me permitido for, que fui e ainda sou feliz. Geralmente estou satisfeita com as minhas decisões. E isso é bom. Sempre muito bom.

Hoje jantei um creme de cenoura e gengibre acompanhado de uma ciabata deliciosa, e como sobremesa, já que é época no nordeste brasileiro, morangos levemente adocicados. Preparar minha comida é uma chance que me deixa feliz.

Antes do jantar, fui com Raul à Farmácia buscar um medicamento para dois encrencados com a respiração, depois fui à padaria onde procurei o Kinder Ovo da Ferrero que não vem mais ao Ceará, procurei o pão rústico que já havia acabado e comprei morangos, pães deliciosos, frutas e leite. Sair com meu filho no fim da tarde, passar na padaria pensando no jantar são oportunidades que me deixam muito feliz.

Das 8h da manhã às 16h, fiquei na casa da mamãe. Lá tomei meu café, almocei, lanchei, conversei, pintei as unhas, vi um pouco de Discovery, cochilei, liguei para algumas amigas, desfrutei da presença da minha mãe e do meu irmão e depois voltei para minha casa. Estar de férias e poder passar o dia à toa e ainda não ser cobrada por nada, e que tudo isso se passe na casa da mamãe são uma conjunção de coisas simples que me deixam extremamente feliz.

Ontem à noite fui ao show do Belchior no aterro da Praia de Iracema. Ouvi e cantei "No Corcovado quem abre os braços sou eu, sou eu, sou eu". Estava com pessoas muito divertidas sem parecer divertidas e de quem gosto muito. Lembrei-me de um primo, o Mário, que me apresentou Belchior e encontrei-me com um outro, da mesma faixa etária, o Flávio. Tomei cerveja gelada e fumei alguns cigarros enquanto dançava. Assistir a um concerto na praia, de graça e bem acompanhada me relaxa tanto que até me esqueço de pensar que estava feliz.

Por volta das 10h da manhã de ontem, decidi fazer uma pequena viagem com amigos para a Taíba. Saímos às 11h da manhã de Fortaleza, pegamos a estruturante, chegamos na Taíba às 12h, nos dirigimos diretamente para o restaurante Le Petit da Claudine. O Le Petit da Claudine é o melhor restaurante francês fora da França, je suis sûr, e lá voltei a comer escargots deliciosos e uma muqueca de peixe, polvo e camarão fenomenal. Tomei cerveja, comi de sobremesa crêpe de morango e depois fomos ficar de molho nas piscinas naturais na Taibinha até às cinco da tarde. Decidir fazer uma viagem e realizá-la em menos de uma hora é um dos programas que mais curto e que nunca deixaram de me agradar profundamente.

Rotina de férias me deixa exultantemente feliz. Amar também.

sábado, julho 15, 2006

Mau humor rima com falta de amor.

Sabedoria

Somos um disco arranhado.

Fofoca

Nós fofocamos para compreender o mundo.

A fofoca é um bem utilitário para compreender o mundo.

Nós só fofocamos para poder melhor compreender as relações humanas.

A fofoca é reconfortante, mas não é transformadora.

quinta-feira, julho 13, 2006

Bom ou ruim?

Quando alguém olha pra você e diz:

-- Incrível, mas você não mudou nada!

domingo, julho 09, 2006

Desanimo porque ...

Desanimo porque tenho encontrado respostas muito simples para o que antes dava sentido e complexidade a minha vida.

Introspecção

  • substantivo feminino
    reflexão que a pessoa faz sobre o que ocorre no seu íntimo, sobre suas experiências etc.

Parece que não quero dizer nada. Não me motivo a falar. Não sei a razão. Estou incerta, muito incerta. Mas isso não me aflige muito. Pouco me aflige. Quase nada tira de mim, quase nada pode me animar.

O que me desanima?

quarta-feira, julho 05, 2006

para não te macular

tanto gosto de ti que por vezes
falar contigo nem prefiro

há dias em que amanheço
feliz por te ter em meus pensamentos

a imagem do dia anterior
a tua voz de timbre grave

gosto tanto delas
que sei não podem se repetir no dia seguinte

por isso me arrependo de falar contigo hoje
e ter de refazer tua imagem outra vez

amanhã já não serás quem tanto desejei
serás uma dúvida, uma pausa, um suspense.

França x Portugal

Gosto dos portugueses
Mas muito melhor
jogam os franceses.

terça-feira, julho 04, 2006

de autora conhecida cujo nome desconheço no momento

O problema de ter cara de santa
é não ser chamada de puta
quando a saia levanta.

domingo, julho 02, 2006

de Georges Benanos, do Blog do Wilfrid

A esperança é um risco a correr.

sexta-feira, junho 30, 2006

Compromissos

Preciso honrar meus compromissos.

Um deles é escrever neste blog diariamente.
Ora bolas, não se trata de um diário?

O segundo deles é com meu corpo.

Fui a uma médica que me perguntou:
-- Você come bem?
-- Você dorme bem?
-- Você se exercita?

Minhas respostas foram: sim, sim, não.

Ela me olhou desconfiada e disse:
-- Exercitar-se é tão essencial para a vitalidade como comer e dormir.

Começo nas férias a me exercitar:

um dia nado, outro dia jogo,
um dia nado, outro dia jogo,
um dia nado.

No fim de semana, descanso.
Que este hábito faça parte da minha vida!

O terceiro deles é estudar.

Neste ano preciso me candidatar ao doutorado.
E para isso, preciso escrever meu projeto:

Psicologia cognitiva, Psicolingüística ou Filosofia da Linguagem?

Os outros muitos compromissos que tenho
já estão sendo bem honrados, penso.

Normalmente coloco na frente os que envolvem outras pessoas.

Difícil é comprometer-me comigo mesma.

quinta-feira, junho 29, 2006

A felicidade é um equilíbrio hormonal.

quarta-feira, junho 28, 2006

Crise

Si je ne semble pas à moi, qui semble à moi?

Eli (p) s (e)

Ele me disse: gosto de todas as elis('es)
Eu lhe digo que não sou elises mas elipse
Sou como o lápis, não admito plural.

quarta-feira, junho 21, 2006

Despressurizada

E eu pensei que fosse uma questão de esforço e mérito. Que idiota fui!

sábado, junho 03, 2006

Sob pressão II

Sob pressão eu tenho de dar tudo de mim. Tudo.

quarta-feira, abril 19, 2006

Sob pressão

Sob pressão, eu não sei dar nada de mim. Nada.

segunda-feira, abril 10, 2006

No salão do nosso Castelo, de costas para mim, apoiado na lareira.

Sonhei que você chegava. Eu estava a me preparar para o encontro. Na cozinha, pela porta entreaberta, via-o entrar no salão, sentar-se no sofá e me esperar. Minha criada, num frisson sem medida e em meio a fofoca com as outras três criadas do Castelo, me dava os retoques finais para que eu me apresentasse da maneira mais bela possível.

Entrava na sala, sabia que elas me espreitavam para ver o desenrolar. Você se levantava do sofá Luís XV, dava voltas ao redor da mesa. Não me percebera. Nosso salão em estilo clássico era enorme. O pé direito alto guardaria o eco de nossas palavras. O teto trabalhado com detalhes em ouro, cenário quase barroco. Você se apóia na parede lateral da lareira. Vira-se e me vê. Nenhum sorriso, nenhum abraço esfuziante. Um olhar de preocupação. Minha timidez levou-me a abaixar a cabeça.

Outra vez vejo-o de costas, inexplicavelmente sem camisa. De forma simétrica, você tem bem embaixo das costelas duas manchas, como duas feridas enormes, cobertas por uma massa cinza que lembrava argila. Descobertas, bem em cima destas feridas, marcas de quem foi machucado cruelmente. Simétricas.

Sinto pena e dó. Tento saber a razão. Não há. Você não sabe, desconhece. Quero cuidá-lo. Meu ímpeto e amor vão apenas nesta direção. E isso é muito.

Acordei.

sábado, abril 08, 2006

Felipe

Eu tenho um amigo por quem sou alucinada. Costumamos relembrar o dia em que nos conhecemos. É o tipo do papo que surge todas as vezes que nos encontramos. Parece que agradecemos a existência desse dia. Parece que é isso. Só pode ser isso.

Eu tinha 13 anos e estudava no colégio Santa Cecília. Fazia a oitava série. Me sentava no canto direito da sala, na última carteira, isolada de todos os outros alunos da sala. As meninas, que poderiam ser minhas amigas, e que talvez tenham sido em algum momento, sentavam nas primeiras filas e possuíam estojos cheios de lápis e canetas coloridas da Disney.

Eu não possuía nada da Disney e como não possuía achava uma babaquice sair desfilando com aqueles bonequinhos fofinhos ou com aqueles lápis multicoloridos ou escrever bilhetes com aquelas canetas prateadas ou douradas que só serviam para aqueles papéis pretos de cartão de quinze anos. Acho que o único objeto comum que tinha com os demais da sala era um tênis da Redley, sem cadarço, super moda na época. Sinal de quem tinha algo de radical por dentro. Era o que parecia.

As aulas haviam começado, não sei se estaríamos na terceira semana já. No meio da primeira aula, vejo entrar dois rapazes. Um pouco constrangidos, levados pela mão do coordenador para dentro da sala de aula, esses meninos, de nomes André e Felipe, procuraram um lugar para sentar e como os únicos vagos eram os que ajudavam a isolar-me, essas duas peças se sentaram ao meu lado.

Eu não me lembro disso que estou contando. É assim que me conta o Felipe. Eu estou apenas reproduzindo. Me contam que eu era revoltada e tinha um cabelo encaracolado até a cintura. Disso eu me lembro. Fomos pouco a pouco nos aproximando e diante das afinidades nos tornamos amigos.

continuo amanhã...

terça-feira, abril 04, 2006

Sentimento menos nobre

Sentir saudade de você é meu estado permanente.

terça-feira, março 28, 2006

Nota de esclarecimento

Minha amiga mais do que virtual, Clícia, minhas alunas queridas, Fernanda, Carol e Aline, minhas amigas da vida, Vanessa e Érica, e amigos do blog que passam e vez por outra se manifestam:

Preciso falar-lhes.

Quero dizer que este site está sendo construído com textos meus e de outros a quem faço sempre referência. Procuro encontrar um sentimento que me permita escrever. O de ultimamente, que parece nem ser muito producente, é a tristeza, mas isso não significa que estou profundamente triste. Tento encontrar aí algo, só isso.

Tento criar em mim pontos diferentes para falar o que não há necessariamente em mim. Aliás, é provável que pouco haja. É provável que eu seja pura experimentação. Eu em meu incansável teste. Olho clínico, observador.

Às vezes, como uma mulher falsa, invento, recrio, aumento, amplio, minimizo, cirzo, reduzo a lembrança, a ausência, o limite, as histórias todas. Minha avó ainda pode estar viva, ainda que morta, ainda posso estar casada, ainda que separada, posso ser feliz, ainda que triste.

Por favor, não acreditem em mim.

E lembrem-se dos mais do que conhecidos versos do Fernando Pessoa: o poeta é um fingidor, finge tão completamente/que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente.

Beijos e obrigada pelas visitas. (E perdão por ter me comparado a um poeta)

Elis

sexta-feira, março 24, 2006

Três da Madrugada

Carlos Pinto e Torquato Neto

Três da madrugada, quase nada
A cidade abandonada
E essa rua não tem mais nada de mim

Nada
Noite, alta madrugada
Nessa cidade que me guarda
Que me mata de saudade

É sempre assim

Triste madrugada, tudo e nada
A mão fria, a mão gelada
Toca bem de leve em mim

Saiba:
meu pobre coração não vale nada
Pelas três da madrugada
Toda palavra calada

Nessa rua da cidade
Que não tem mais fim


* * *

Quando há muitos anos, voltava para casa, numa noite úmida e fresca como a de hoje, costumava ligar o som do meu carro e ouvir essa canção linda, interpretada por um grupo que não mais existe, chamado Nouvelle Cuisine.

Quando voltava para além das três da madrugada, ouvia uma outra, da Dolores Duran e do Tom Jobim, chamada Estrada do Sol.

É de manhã vem o sol
Mas os pingos da chuva
que ontem caiu

Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre
Que me traz esta canção

É de manhã vem o sol
Mas os pingos da chuva
que ontem caiu

Ainda estão a brilhar
Ainda estão a dançar
Ao vento alegre
Que me traz esta canção

Quero que você me dê a mão

Vamos sair por aí
Sem pensar no que foi
que sonhei
Que chorei, que sofri

Pois a nossa manhã
Já me fez esquecer
Me dê a mão
vamos sair pra ver o sol

Naquela época, talvez fosse recorrente voltar para casa no tempo chuvoso, também chuvosa por dentro. Meus problemas eram de outra ordem e lembro-me bem de me sentir com mais freqüência triste do que atualmente. Era a tristeza da adolescência, da ansiedade do que estava por vir, da incerteza do amor.

Hoje eu ainda choro. Acho importante conservar esse sentimento, para nunca ter a dificuldade em distinguir uma situação feliz de uma triste. Há adultos que se tornam indiferentes a tudo, o mundo, para eles, é monocromático.

Minha tristeza não é de adolescente, mas é provável que aconteça pela mesma razão. A ansiedade do que está por vir e a incerteza do amor.

Meu coração ferido

Eu entendo o significado do silêncio, da ausência e da distância.

Raul com 4 anos e 4 meses (A foto foi tirada no domingo, 19 de março de 2006)



Eu gosto muito dele.

quarta-feira, março 22, 2006

De Shakespeare

A esperança da felicidade é quase igual à felicidade.

terça-feira, março 21, 2006

Vamos sambar?

É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe, é assim como a luz no coração...

INSIGHT

Porque insights sempre têm de vir às 2h30 da madrugada!

Descobri o que quero fazer em meu doutorado e estou zer zer zer feliz com isso.

Meus neurônios que produzem minhas ações ações ações ações ações ações ações sem sentido e significado...

Continuarei com a mesma pergunta do meu mestrado (olha só, isso não é óbvio nem de responder nem de descobrir!):

O que é o significado de uma expressão lingüística?

De quantas maneiras posso responder a essa pergunta! Como posso cruzar os resultados ou conclusões que foram dadas a essa simples pergunta! O que me diz a filosofia? O que me diz a psicolingüística? O que me diz a neurociência da linguagem? O que há de comum? Em que medida confluem e divergem essas teorias?

Outra vez um mergulho: conhecer o estado da arte e produzir interferências.

segunda-feira, março 20, 2006

Cara, clara, caro

Minha vida não é clara, mas é cara, meu caro.
Minha vida não é cara, mas é claro, minha cara.
Minha vida não é cara, mas é, clara, meu caro.
Minha vida não é mel karo, mas é cara, Clara.
Minha vida não é mais cara, é claro, meu caro.
Minha vida não é máscara, é clara, meu caro.

Minha vida não é, cara, nada clara nem cara.

Das quadras esta é a quadra que mais gosto

Minha razão é de aço
Não me deixa aliviar
Não dá em falso um passo
Estreita meu caminhar.

sábado, março 18, 2006

De um amigo meu, semi-palhaço

Cabra que não dá assistência
Abre a concorrência
E perde a preferência.

Isso é que é rimência.

EPIGRAMA Nº 2 de Cecília Meireles

És precária e veloz, Felicidade.
Custas a vir, e, quando vens, não te demoras.
Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo,
e, para te medir, se inventaram as horas.

Felicidade, és coisa estranha e dolorosa.
Fizeste para sempre a vida ficar triste:
porque um dia se vê que as horas todas passam,
e um tempo, despovoado e profundo, persiste.

Enquadrada

Se eu estivesse triste agora
Penso que seria mais feliz
Quero ser a mulher que chora
Pelo menos, soube o que quis.

Uma rima básica para não perder a prática

Me disseram que eu tinha um ar blasée.
O que vocês acham que eu posso fazer?

Fique à vontade

Eu deixei a porta aberta para você entrar.

quarta-feira, março 15, 2006

TORRE

Quando eu puder, quero ter uma casa com um nome, assim como a casa de minha avó, que era conhecida por Torre. Hoje, seu nome passou a designar um bairro inteiro.

É um bonito e forte nome: TORRE.

Quando minha avó morreu, eu ainda era uma meninota adolescente. Foi na primeira fase, se não me engano. Talvez tivesse uns quatorze anos, por aí. Lembro que ela passava muito mal, a pobrezinha. Não reconhecia netos, filhos, noras. Minha mãe, segundo sua versão, a cuidou mais do que todos os da família. Morreu de câncer no pâncreas. No hospital. Fiquei com a lembrança dela, ainda relativamente lúcida, na varanda de sua casa, onde costumava cortar-lhe as unhas. Lembro-me dela sentada, naquele chão frio de cimento, depois do almoço, iluminada pela luz única e singular da caatinga cearense. Compondo o cenário em minha memória, vejo, no alpendre, meu avô se balançar numa rede de tucum, mastigando fumo de rolo e dormindo agarrado a seu cajado, o meio eficiente que encontrara para afugentar netos zoadentos. Vez por outra, se o sono era leve, punha-se a trançar a palha da carnaúba. Fazia esteiras, chapéus, açoites, o que lhe viesse à mente. Era habilidoso. Essa arte fosse talvez a sua literatura. Ali, ao lado da habilidade manual, passava sua vida em revista. Relembrava histórias, maldizia as trapaças, projetava seu futuro. Minha avó, apesar da idade, ainda era encabulada. Sempre que pedia, me contava suas histórias. Eu lhe perguntava o mesmo: como tinha sido o encontro deles dois. Inocente, imaginava que se tratava de um amor profundo. Não podia ainda perceber que outras forças, muito mais imperiosas do que o amor, eram fundamentais para unir um casal.

Quando menina, gostei demais de ir a São Bento da Amontada. Lá, me esbaldava de tanto brincar. Hospedávamo-nos sempre na casa da vovó. Minha mãe, doente por limpeza, fazia uma faxina completa no nosso cômodo, armava ali umas redes e guardava ali nossas malas. Quando voltávamos, costumávamos vir carregados de comida sertaneja, e obviamente do meu doce predileto, o doce de leite feito por minha avó.

Por causa do doce de leite, resolvi escrever sobre ela, quase dezesseis anos depois de sua morte. Passei um bom período sem me dar conta de que não mais residia sobre a terra. Nas férias, tinha o ímpeto de convidar minha família para ir à Amontada, fazer-lhe uma visita. E nessas horas, percebia que a vovó já não existia e que as razões para ir àquela cidade escasseavam. Sonhei muito com ela, ainda viva, sempre viva.

No velório, na ante-sala de sua casa, quando a percebi deitada no caixão aberto, segurei-lhe as mãos e lhe disse para levantar-se. Quis informar-lhe que ali havia muita gente, e que ela devia se preparar para receber a todos, que não podia se comportar daquela maneira, deitada e dormindo diante dos convidados. Afinal, eles estavam em sua casa, precisavam ser recebidos pela dona. A bandeja de bombons passava e lembro-me de ter pego um pipper para mim. As pessoas bebiam refrigerante, e circulava muita gente, muita gente mesmo. Aprendi que uma cena de velório não era apenas uma reunião triste. É o momento em que as pessoas aproveitam para mostrar sua solidariedade e cordialidade.

Sua fama era a de receber todos que por ali passavam. Sua mesa estava sempre cheia de comida. Era um banquete diário. A família era enorme. Teve onze filhos, dos quais nove sobreviveram. Meu pai foi o caçula. Dos onze, uma mulher apenas. Uma família de homens, praticamente. Entre netos e bisnetos, podia-se contar uma centena. Imagino que em períodos de festa, a mulher não devia ter descanso. Todos em São Bento da Amontada, entrançando em sua casa tal qual a palha da carnaúba entrançava nas mãos de meu avô. Na cozinha, pendurados por ganchos, bichos recém mortos, carne fresca para alimentar a família-batalhão. Eram galinhas penduradas de cabeça para baixo, eram partes inteiras de carne seca de boi, eram chouriços enlaçados marcando aquelas paredes de vermelho, as gotas de sangue lembrando a cena de um açougue. A despensa, uma mini-casa interna ao lado do fogão à lenha, abrigava em várias latas os mantimentos, frutos da colheita daquele ano. Lá também, minha avó e minha mãe, em comum acordo, escondiam os biscoitos e os chocolates mais deliciosos.

Em seu quarto, possuía dois baús, o lugar onde guardava roupas de vestir, roupas de cama, alguns segredos, recordações caras, e um ou outro objeto de valor. Sempre me pareceu um mistério. O chão de seu quarto não era como o do alpendre, de cimento. Era feito de uma espécie de tijolo, mais do que vermelho escuro, cor de barro mesmo, de laterais arredondadas, gasto pelo tempo, como se fossem azulejos rústicos da idade da pedra. Dormia de rede numa parte do quarto e meu avô em outra rede, na parte oposta.

Sua cristaleira protegia meia dúzia de copos finamente decorados e algumas belas xícaras. Ansiava pelo dia em que poderia tomar café em uma delas. Na sala, sempre estava a TV em preto e branco e o rádio antigo em tom marrom.

O banheiro da casa da minha avó era fora da casa da minha avó. Duas portas, à saída da cozinha, davam cada uma acesso a funções semelhantes às do banheiro moderno. Por uma porta entrava-se para o banho, um tanque de cimento e barro, onde ficava água estancada e algumas rãs. Pela outra porta, um sanitário sem fossa e tampa, para uso de todos. Com a modernidade, minha mãe lutou muito para que os filhos construíssem dentro da casa um banheiro mais asseado para a família. Nós o usamos durante a nossa vida por lá. Este já possuía um chuveiro e uma pia, para uma eventual limpeza dos dentes.

Bem ao lado do alpendre, ficavam os estábulos, para onde as vacas, os bois e alguns cavalos iam se alimentar na primeira hora da manhã e no final da tarde. Um espetáculo.

Minha avó se chamava Euclídia de Barros Teixeira. Possuía uma irmã, de nome engraçado, Ovídia, de quem nunca esqueço a fisionomia. Foi a pessoa mais parecida comigo que já vi.

Lembrar-me de minha avó é lembrar-me da casa de minha avó.
Lembrar-me de um Torre feito de Barros.

domingo, março 12, 2006

Água da fonte

Queria poder te amar
Um amor bom e sem fim
Queria poder te amar
Sair de dentro de mim

Não posso, mas eu quero
Sentir um amor tão profundo
Uma alegria sincera
Embrenhar-me no teu mundo

Meu coração é de pedra
Duro, seco e sem vida
Quando não é isso
É só um vazio sem viço

Queria poder te amar
Um amor grande e austero
Queria poder te amar
Te dizer como eu te quero

Não posso, mas eu quero
Passar essa vida errando
Desprender-me sem bom senso
Viajar sem ter um plano

Minha razão é de aço
Não me deixa aliviar
Não dá em falso um passo
Estreita meu caminhar.

Gaita de Lata

Cecília Meireles

Se o amor ainda medrasse,
aqui ficava contigo,
pois gosto da tua face,
desse teu sorriso de fonte,
e do teu olhar antigo
de estrela sem horizonte.

Como, porém, já não medra,
cada um com a sorte sua!

(Não nascem lírios de lua
pelos corações de pedra...)

Rima básica para não perder a prática

amar cura
amar-gura

De Umberto Eco, n'O Pêndulo de Foucault

Há quatro tipos ideais: o cretino, o imbecil, o estúpido e o louco. O normal é a mistura equilibrada destes quatro.

Queria entender o sentido desta frase

"Aquele que ama realmente não coloca condições a seu amor." André Provonost

Recém-saída de um romance de Rubem Fonseca

Ele me ligou numa quinta-feira à tarde. Era quase hora de sair para o trabalho. Identificou-se. Começou lento, aos poucos foi me deixando confiante. Passamos quase uma hora ao telefone. Na semana passada, me ligou novamente. Convidou-me para comparecer. Cheguei às duas. Quase uma hora para me atender. Conseguiu nomear tudo o que para mim não tinha nome. Depois de ajudá-lo com técnicas amplamente conhecidas, pediu para que eu verificasse se não continha erros. Tudo certo. Uma despedida e a gentileza de me acompanhar até a porta. Abriu-a e me desejou sorte. Sinceramente, espero tê-la.

sexta-feira, março 10, 2006

A tristeza tem sempre uma esperança de não ser mais triste não.

Mulher, sempre mulher, dê no que der

O dia internacional da mulher não é o dia para que as pessoas presenteiem as mulheres com rosas ou com um carinho especial. O dia internacional da mulher é para que nos lembremos da importância dos direitos de igualdade de tratamento em todos os aspectos. As mulheres ainda recebem um salário inferior ao dos homens, quando ocupam as mesmas funções, ainda sofrem pressão psicológica e violência física, ainda são discriminadas publicamente por seus pensamentos ou por seu modo de operar e ainda estão pensando que a forma como o mundo as trata é natural, lógica, óbvia e que não haveria outra forma possível.

Sempre é possível reorganizar nosso modo de vida.

Vamos em frente, mesmo sem ter com o que contar!

Talvez o meu caminho seja triste para você

terça-feira, março 07, 2006

O que eu fiz para merecer isso?

Meu pai quando criança me botou um brinco no berçário, uma fita vermelha no pulso e me falou que a proteção dessa natureza era importante em todas as fases da minha vida. Ele me achava muito bonita e temia mal olhado.

No café da tarde, de costume alemão e brasileiro: café com leite e bolo, depois de tentar responder à pergunta acima, lembrei-me que há oito anos mais ou menos recebemos em casa de minha mãe, de um jato, uma boneca, um vodu, que se assemelhava a mim, e estava toda alfinetada em meio a terra, que segundo me contaram, era de cemitério.

Como sou descrente, céptica, joguei a boneca fora, não me afligi com a situação, pensei tratar-se de um engano, porque não tinha inimigos na época. Nunca me lembrei disso. Acho que estou tão deprimida, tão aflita sem entender as razões de viver essa experiência demasiado dolorosa, que ando até apelando para explicações algo místicas.
Passei hoje mais de quatro horas dentro de uma livraria com a organização mais louca que já vi. Lá todos os títulos estavam agrupados por editora, não por tema. O que posso pensar de um lugar como esse? Não é um lugar onde eu possa descobrir autores que falem sobre o mesmo tema, perceber que há mais de um ponto de vista. Aquele lugar era um depósito de livros. O que importava, me disse a vendedora, era o fluxo de saída dos livros, a prestação de contas com as editoras. Ela me falou que a função delas era encontrar o livro que eu estava procurando. O que ela queria me dizer, em outras palavras, era que eu não podia entrar lá se não tivesse um objetivo definido, um nome de autor, um nome de um título e um nome de editora. Que horror! Passei horas tentando encontrar livros de poetas novos, livros de mitologia, livros de autores que não são exclusivos de uma editora. Se Carlos Heitor Cony, por exemplo, tinha um contrato com a Ediouro na década de 70 e 80, hoje ele tem um contrato com a Companhia das Letras. Seus livros não estão todos reunidos numa prateleira. Estão em prateleiras opostas, em salas diferentes, tão distantes um do outro. Procurei um livro de Bertrand Russel, que se chama A conquista da Felicidade, numa estante da Filosofia, não estava. O vendedor com desdém me disse que se houvesse estaria junto com os livros da editora não sei das quantas. A editora não sei das quantas estava junto de livros técnicos de medicina e física. A editora que produz os livros esteticamente mais bonitos do Brasil, a Cosac&Naïf, estava no canto perdido de uma estante, bem em frente a outra, onde mal se podia acessar, mesmo que a pessoa se dispusesse a se agachar como eu, a quase se deitar no chão, a se lambuzar na poeira acumulada daquela minúscula passagem que mal abriga uma vassoura de piassava.

Saí de lá triste. Não encontrei o que eu queria, não fui ao lugar que queria, não tive a atenção que queria. Não temos em Fortaleza uma livraria boa, com os requisitos mínimos de uma livraria. E olha que estou falando da livraria que fica no centro mais rico da cidade, a Livraria ao Livro Técnico, na Dom Luís.

Antes, havia estado em duas lojas no Shopping Aldeota. Uma de perfumes e uma de roupa de grife. Com que atenção fui recebida! Que educação possuíam os vendedores. Com que delicadeza e paciência me atendeu a vendedora da loja de roupas.

Não tenho nada hoje. Um vazio. Só um vazio.

segunda-feira, março 06, 2006

De Lao Tsé

A mais alta árvore nasceu de uma semente pequenina.

domingo, fevereiro 26, 2006

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Le pont Mirabeau

Parce que Apollinaire est encore présent.

Sous le pont Mirabeau coule la Seine
Et nos amours
Faut-il qu'il m'en souvienne
La joie venait toujours après la peine

Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure

Les mains dans les mains restons face à face
Tandis que sous
Le pont de nos bras passe
Des éternels regards l'onde si lasse

Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure

L'amour s'en va comme cette eau courante
L'amour s'en va
Comme la vie est lente
Et comme l'Espérance est violente

Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure

Passent les jours et passent les semaines
Ni temps passé
Ni les amours reviennent
Sous le pont Mirabeau coule la Seine

Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure
Vai vai vai para bem longe
Vai vai vai para qualquer lugar
Vai vai vai a 12mil km daqui
Vai vai vai me abandona logo
Vai vai vai passar um mês fora

Mas, por favor, não cometa o pecado
de na era da rápida locomoção
ficar mais de uma semana
a somente 30 min de mim

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Impropérios - Das minhas conclusões sobre a mente humana

A paixão é como a depressão, retira dos seres humanos a capacidade de discernir, ponderar, raciocinar e produzir. Não quero dizer com isso que as ações acima sejam as que devemos cultivar em todas as esferas de nossa atividade humana. De forma nenhuma. Mas quero dizer que, ao se assemelhar a um estado dito anormal da atividade cerebral e do comportamento social, poderia, por apenas uma vez sequer, ser foco de pesquisas da área farmacêutica. Quantos problemas evitaríamos se nossos amigos ou nossa família nos pudessem medicar para que víssemos o que só vamos ver algum tempo depois? E se o que víssemos nos agradasse realmente, deixaríamos de tomar a pílula e viveríamos como se nada tivesse acontecido. Afinal, normalmente quando estamos bem não lembramos das fases ruins e quando estamos mal pensamos que nunca houve tempo bom.

Uma dor de verdade não cura com um gelo de mentira.

Fim de um dia triste

um vinho com sabor a suco de uva
quase nada fermentado
azeitonas pretas extremamente suaves
um livro vermelho sobre a mesa
uma mulher de preto e branco
outra de vermelho e preto
mais uma em tons de azul
a loura, a branca e a morena

na cabeça, nada mais do que bobagens
ditas sem importância

o único relevante daquele espaço
eram as voadoras de amedrontar

Irrequieta 2 - Da série: Rima básica para não perder a prática

antes de dormir
e depois de acordar
minha mente não pára
de me atormentar.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

L'Adieu - Apollinaire

J'ai cueilli ce brin de bruyère
L'automne est morte souviens-t'en
Nous ne nous verrons plus sur terre
Odeur du temps brin de bruyère
Et souviens-toi que je t'attends


Parce que dès le début de cette semaine, Guillaume Apollinaire est présent

Idéias de Wittgenstein que não param de rondar minha cabeça, ainda que seja de madrugada

Procurar entender o significado de nossas ações no mundo é um impulso tão natural quanto vão.
Não há nada para ser compreendido, a não ser no jogo do compreender e ser compreendido.
Somos todos uns filhos da puta, estamos sempre em função do nosso prazer mais imediato.

Pobre de quem acredita que possa ser de outra maneira.

terça-feira, fevereiro 14, 2006

Irrequieta

Um pingo de alegria
mais ansiedade
transformou
meu destino

irrelevante.
Entre o que eu digo e o que você entende, não há um fosso nem um abismo, simplesmente não há nada.

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

NÓS, OS CARECAS

(Arlindo Marques Júnior e Roberto Roberti - 1942)

Nós, nós os carecas
Com as mulheres somos maiorais
Pois na hora do aperto
É dos carecas que elas gostam mais

Não precisa ter vergonha
Pode tirar seu chapéu
Pra que cabelo? Pra que seu Queiroz?
Agora a coisa está pra nós, nós nós...

TURMA DO FUNIL

Chegou a turma do funil
Todo mundo bebe
Mas ninguém dorme no ponto
Aí, aí, ninguém dorme no ponto
Nós é que bebemos e eles que ficam tontos

Eu bebo, sem compromisso,
com meu dinheiro, ninguém tem nada com isso
Aonde houver garrafa, aonde houver barril
Presente está a turma do funil

PIERRÔ APAIXONADO

(Noel Rosa-Heitor dos Prazeres, 1935)

Um pierrô apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma colombina
Acabou chorando, acabou chorando

A colombina entrou num butiquim
Bebeu, bebeu, saiu assim, assim
Dizendo: pierrô cacete
Vai tomar sorvete com o arlequim

Um grande amor tem sempre um triste fim
Com o pierrô aconteceu assim
Levando esse grande chute
Foi tomar vermute com amendoim

domingo, fevereiro 05, 2006

Osso

O osso do dedão do meu pé esquerdo parece sensível demais a cada pisada que dou: estará quebrado ou é um protesto por ser de esquerda?
a desculpa que você não me pediu foi a reincidência.

causação mental

estou morta
um morto não escreve
por isso estou morta
um morto não tem consciência
por isso não escreve
um morto não pensa
por isso estou morta
um morto não tem intenção
por isso não escreve
o cérebro de um morto não trabalha
por isso estou morta
ainda escrevo
não estou morta, estou em vias de
por isso.

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Ma vie en rose

Des yeux qui font baisser les miens
Un rire qui se perd sur sa bouche
Voilà le portrait sans retouche
De l'homme auquel j'appartiens

Quand il me prend dans ses bras,
Il me parle tout bas
Je vois la vie en rose,
Il me dit des mots d'amour
Des mots de tous les jours,
Et ça me fait quelque chose

Il est entré dans mon cœur,
Une part de bonheur
Dont je connais la cause,
C'est lui pour moi,
Moi pour lui dans la vie
Il me l'a dit, l'a juré
Pour la vie.

Et dès que je l'aperçois
Alors je sens en moi
Mon cœur qui bat.

Des nuits d'amour à plus finir
Un grand bonheur qui prend sa place
Des ennuis, des chagrins s'effacent
Heureux, heureux à en mourir.

Do Raul e de sua mãe, depois de uma cabeçada.

Uma dor de verdade não cura com um gelo de mentira.

domingo, janeiro 29, 2006

Com a idade, os sentimentos se tornam algo físico.

Diálogos naturalistas XXI: as conclusões do Raul

Na cama, Raul e eu deitados, preparo-o para dormir.

-- Mamãe, faz um carinho em mim, faz ?! - começo a fazer um carinho em suas costas.
-- ...
-- Mamãe, mamãe, faz um carinho rápido, mamãe - já impaciente.
-- Não Raul, carinho não tem que ser rápido, carinho é devagar.
-- Carinho é natural, mamãe?
-- Como assim, Raul, natural?
-- Porque o que é natural é devagar e o que não é, é rápido.

Me impressiona a perspicácia da sua observação.

Alegría de olvido

No sabes la alegría que siento por haberte olvidado. Por un día que sea, por un día que es el mismo día en que me veo hablando de ti. Aún así, no sabes tú la alegría que siento por haberte olvidado.

Si fuera yo hablar de palabras, diría que solo me gustan las más populares, aunque no sepa lo que es popular y lo que es erudito.

Lo siento muchísimo todo lo que nos pasa y que nos pasará.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Ainda choro.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Juste pour réflechir

"Quem nunca caiu não tem idéia do esforço que é necessário para se manter de pé"
Multatuli

"Apesar das precisões atômicas das balanças modernas, não se conseguiu ainda medir o peso exato da solidão"
Ruby

segunda-feira, janeiro 23, 2006

1semana

desde a semana passada
preciso de uma semana
de cabo a rabo
até o início
da próxima semana

quinta-feira, janeiro 19, 2006

De Victor Hugo

"Uma mulher que tem um amante é um anjo, uma mulher que tem dois amantes é um mostro, uma mulher que tem três amantes é uma mulher."

terça-feira, janeiro 17, 2006

Velório

-- Com licença, eu tenho mais direito do que você. Aliás, quem é você?
-- Como quem sou eu, ué, não sabe?...se não sabe é porque provavelmente tenho muito mais direito que você.
-- Você se engana, meu caro. Ela me amava e já fazia tempo. Um amor silencioso e profundo.
-- É comigo que ela estava, ainda um pouco tímida, é verdade, mas sentia que gostava muito de mim.
-- Isso não lhe dá o direito, com licença.
-- Burra, deve ter feito alguma bobagem para morrer assim. Não sabia se cuidar. Mal bebia água, tinha que lutar todos os dias para ver se enchia um copo d'água.
-- Talvez por isso, por tanta insistência ela relutou tanto em beber água. Grosso!
-- Quem é você e por que me chama de grosso?
-- Sei tudo dela...tu-do. Ela não te suportava. Saia daqui!
-- Você é um insignificante, ninguém te atura...não sei como você consegue se suportar.
-- Com licença, você já passou tempo demais aí.
-- Minha irmãzinha, como isso foi te acontecer...tão jovem.
-- Que Deus a tenha bem em seus braços, você merecia, meu amor.
-- Isso é um chafurdo, por que esses caras não saem daí de perto? Vamos lá, nenê?
-- Vocês podem nos dar mais privacidade, por favor, e terminar a discussão lá fora.
-- Não acredito, não posso acreditar nisso!
-- Nosso amor foi demais, demais.
-- Ela nunca conseguiu amar outro homem.
-- Eu a estava esperando para voltar para casa.
-- De que casa você fala?
-- Da minha, ué.
-- Mas a sua nunca foi dela. Aliás, nunca teve casa com você, só teve casa comigo.
-- Mas quase casa comigo, e de fato vivemos juntos muito tempo. Se a gente for contabilizar eu tenho mais direito do que todos vocês. Eu a conheço mais, e há mais tempo.
-- Mentira, você não representa nada, se eu fosse você nem teria vindo.
-- Está louco, não sabe nada sobre nossa intimidade. Ela não gostaria que eu faltasse.
-- O que ela não gostaria era de ter morrido, rapaz.
-- Também, mas se observarmos por outro ponto de vista, seria capaz de reivindicar minha presença.
-- Não entendo nada. Lamento muito que isso tenha ocorrido. Deus é injusto.

No de fato, meia dúzia de palavras, alguns olhares distantes, muito pesar e pouco frio. Finou-se.

domingo, janeiro 15, 2006

uma noite em claro
não é o mesmo que uma noite clara
nem que a clara da noite
menos ainda claro
é dizer que a noite está clara
que clara não é claro
meu caro

Da minha irmã

Sua característica, Elis, não é a duração, é a intensidade.
Olha só, sem querer, estamos falando de física.

sábado, janeiro 14, 2006

Fivela vermelha


No mármore rajado,
tão delicada,
a quase imperceptível
fivelinha vermelha

Lembrança da beleza
abandonada
na noite anterior.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Sonho inoportuno

Assombração. Um vulto que sai e se veste. Incômodo. Não abre os olhos, não quer falar, não quer rir, não quer falsear nada. Colchão adentro. Sua cabeça pesa, pesa, pesa. Seu pensamento toma medidas desproporcionais. Imerge em sonho inquieto. Inseguro. Ele está ali diante dela, tão distante, tão distante. Está do outro lado da rua. Mal o vê. Inoportuno. Muito. Não há chamadas, o telefone não toca, ela não sabe onde ficar ou ir. Percebeu que não há caminhos, está tudo incerto. Sua família está distante, não do outro lado da rua. Está detrás, em uma casa, resguardada e sorridente. Ele ainda é um bebê e naquela hora dorme. Sonha, está em paz. Ele é um bebê em paz. Seu carro não sabe manobrar. Quase cai em um espelho d’água. O contorno é feito numa enorme coluna redonda. Não sabe de que é feita. Atenta espera. Dá marcha-ré, se livrou do espelho d’água. Sua família é melhor, sempre foi, é o que lhe traz felicidade e paz. Ele continua, ainda tarde do outro lado da rua. Está sentado diante dela, tão distante, tão distante. Um sonho infeliz. Incômodo. O rosto não pôde virar-se, cumprimentar, falsear. Não pode se relacionar com o mundo, o mundo é uma assombração.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Para Natércia, depois do seu convite

Domingo é o dia da maior saudade
De segunda em diante, o sentimento vai diminuindo
No sábado já estou completamente feliz
Para no domingo desabar diante do passado
Exposto nas intermináveis horas que compõem este dia.

What a difference a day made

What a difference a day made,
twenty four little hours
Brought the sun and the flowers
where there use to be rain

My yesterday was blue, dear
Today I'm a part of you, dear
My lonely nights are through, dear
Since you said you were mine

Oh, what a difference a day made
There's a rainbow before me
Skies above can't be stormy
since that moment of bliss
That thrilling kiss

It's heaven when you
find romance on your menu
What a difference a day made
And the difference is you, is you

Cantada por Billie Holiday
Letra e música de Maria Grever & Stanley Adams

Diálogos escatológicos XX: a leveza do Raul

Estava me olhando no espelho do banheiro, não sei se escovava os dentes ou pensava na morte da bezerra, só sei que entra Raul e me diz que quer fazer cocô. Deixo que ele faça tudo sozinho, além de ganhar autonomia, eu trabalho menos (sou um tantinho preguiçosa).

-- Tire a cueca Raul e sente na privada!

Nada mais se sentar, ele me sai com essa:

-- Mamãe, eu não penso como você!

Diante desta declaração, fico muda...não sei o que fazer.

-- Como é, Raul? Você não pensa como eu?
-- Não, mamãe, eu não penso como você.

Como já sei que uma frase como essa ele deve ter tirado de alguma situação bizarra, sigo o questionamento.

-- De onde você tirou isso, Raul? Que não pensa como eu?

Ele não soube me dizer, mas eu me lembrei exatamente o que havia acontecido:

Retirei a porta do meu banheiro, portanto, sempre que ele está no meu quarto pode ver o que faço. Outro dia, ele chegou, eu estava sentada na privada, e ele fez a pergunta de praxe:

-- Mamãe, você tá fazendo cocô ou xixi.
-- Estou fazendo xixi, Raul.
-- Mamãe, o teu xixi demora tanto, né?
-- Não, Raul, não demora. É como o seu.
-- E por que você passa tanto tempo aí sentada?
-- Ah, Raul, porque depois de fazer pipi, eu fico aqui pensando.

terça-feira, janeiro 10, 2006

espera

nervos
trago cigarro, fumaça
chopp gelado, especialidade da casa
mão trêmula, a comida cai
roupa suja de shoyo

o tempo livre
minhas urgências
desisto
meu tempo livre são
nervos, cigarro e tremor

não choro

Uma biblioteca é um hospital para o espírito.

Continuando a série: remédio para todos os males - uma citação para me dar suporte
(Inscrição da antiga biblioteca de Alexandria - dicionário de provérbios, sentenças e máximas, Larousse)

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Bliss and kiss

Você não é nada trivial nem imberbe.

domingo, janeiro 08, 2006

Diálogos amorosos XIX: a eternidade do Raul.

Raul anda muito amoroso. Cada declaração enternece sobremaneira meu coração.

-- Mamãe, eu te amo para sempre, eu vou te amar a vida inteira, até o mundo inteiro se acabar.
-- Mas Raul, o mundo não se acaba, é a gente que se acaba.
-- O mundo se acaba sim, vai ser todo destruído. A gente não se acaba.
-- A gente se acaba antes do mundo se acabar. Quando a gente tiver 80, 90 anos a gente se acaba.

-- Mas, mamãe, eu não quero d-existir. Vou ser criança a vida inteira no mundo inteiro.

Raul, I's yo' woman now,
I's yours forever
Mornin' time an' evenin' time
an' summer time an' winter time
(ouçam Bess, you is my woman now cantado por Ella Fitzgerald & Louis Armstrong)

terça-feira, janeiro 03, 2006

1o monólogo de Dom Juan de Molière: uma apologia ao cigarro

Ato I
Cena 1
Sganarelle, Gusman


Sganarelle, segurando uma carteira de cigarro.

O que possa dizer Aristóteles e toda a filosofia, não há nada igual ao cigarro: é a paixão das pessoas honestas, e quem vive sem cigarro não é digno de viver. Não somente ele purga e redime os cérebros humanos, mas ainda leva as almas à virtude, e se aprende com ele a se tornar um homem honesto. Não vêem bem, desde que o pegamos começamos a usá-lo como todo mundo e como ficamos alegres quando podemos compartilhá-lo à direita ou à esquerda, em todo lugar onde podemos estar? Nem esperamos que alguém nos peça um, nos adiantamos ao desejo das pessoas: tanto é verdade que o cigarro inspira os sentimentos de honra e de virtude a todos os que fumam. Mas já é bastante sobre esse assunto. retomemos um pouco nosso discurso. Portanto, Gusman, Dona Elvira, tua madrasta, surpresa por nossa partida (...)


Acabo de ver um filme mexicano chamado NICOTINA. Muito interessante porque o destino dos personagens está relacionado com o ato de fumar. Todos morrem ou se dão muito mal, não por causa das substâncias tóxicas do cigarro, mas pelo inoportuno que pode se tornar em certas situações. Vale a pena vê-lo!

Hommage à Huis Clos - Sartre

A presença dos outros é embaraçante e o pior, necessária. Não podemos escapar, não há refúgio nem repouso.

Enquanto estamos vivos ainda temos o sono, depois de mortos nem isso para nos consolar.

A tediosa eternidade.

Volto a dizer: os livros, a leitura, a ficção é o que ainda nos salva. Remédio para todos os males.

domingo, janeiro 01, 2006

Ei doçura (Hey sweet man), morro de rir cada vez que escuto essa música

Hey sweet man
Who you give your lovin' to?
Hey sweet man
Who you give your lovin' to?
I gotta mind to love you
I'll love you through and through

Hey momma's child
Ain't you been waitin' for me?
Hey momma's child
Ain't you been waitin' for me?
I've gotta mind to love you
And my love won't leave you be

Hey sweet woman
I see you're searchin' too
Hey sweet woman
Ain't no man that love you
Hold on, pretty momma
Someday he'll be searchin' too

Well we need some lovin'
We need it oh-so-bad
We need some lovin'
We need it oh-so-bad

'Cause it's bad lovin', momma
It's the only thing we ever had

Madeleine Peyroux