domingo, janeiro 29, 2006

Com a idade, os sentimentos se tornam algo físico.

Diálogos naturalistas XXI: as conclusões do Raul

Na cama, Raul e eu deitados, preparo-o para dormir.

-- Mamãe, faz um carinho em mim, faz ?! - começo a fazer um carinho em suas costas.
-- ...
-- Mamãe, mamãe, faz um carinho rápido, mamãe - já impaciente.
-- Não Raul, carinho não tem que ser rápido, carinho é devagar.
-- Carinho é natural, mamãe?
-- Como assim, Raul, natural?
-- Porque o que é natural é devagar e o que não é, é rápido.

Me impressiona a perspicácia da sua observação.

Alegría de olvido

No sabes la alegría que siento por haberte olvidado. Por un día que sea, por un día que es el mismo día en que me veo hablando de ti. Aún así, no sabes tú la alegría que siento por haberte olvidado.

Si fuera yo hablar de palabras, diría que solo me gustan las más populares, aunque no sepa lo que es popular y lo que es erudito.

Lo siento muchísimo todo lo que nos pasa y que nos pasará.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

Ainda choro.

terça-feira, janeiro 24, 2006

Juste pour réflechir

"Quem nunca caiu não tem idéia do esforço que é necessário para se manter de pé"
Multatuli

"Apesar das precisões atômicas das balanças modernas, não se conseguiu ainda medir o peso exato da solidão"
Ruby

segunda-feira, janeiro 23, 2006

1semana

desde a semana passada
preciso de uma semana
de cabo a rabo
até o início
da próxima semana

quinta-feira, janeiro 19, 2006

De Victor Hugo

"Uma mulher que tem um amante é um anjo, uma mulher que tem dois amantes é um mostro, uma mulher que tem três amantes é uma mulher."

terça-feira, janeiro 17, 2006

Velório

-- Com licença, eu tenho mais direito do que você. Aliás, quem é você?
-- Como quem sou eu, ué, não sabe?...se não sabe é porque provavelmente tenho muito mais direito que você.
-- Você se engana, meu caro. Ela me amava e já fazia tempo. Um amor silencioso e profundo.
-- É comigo que ela estava, ainda um pouco tímida, é verdade, mas sentia que gostava muito de mim.
-- Isso não lhe dá o direito, com licença.
-- Burra, deve ter feito alguma bobagem para morrer assim. Não sabia se cuidar. Mal bebia água, tinha que lutar todos os dias para ver se enchia um copo d'água.
-- Talvez por isso, por tanta insistência ela relutou tanto em beber água. Grosso!
-- Quem é você e por que me chama de grosso?
-- Sei tudo dela...tu-do. Ela não te suportava. Saia daqui!
-- Você é um insignificante, ninguém te atura...não sei como você consegue se suportar.
-- Com licença, você já passou tempo demais aí.
-- Minha irmãzinha, como isso foi te acontecer...tão jovem.
-- Que Deus a tenha bem em seus braços, você merecia, meu amor.
-- Isso é um chafurdo, por que esses caras não saem daí de perto? Vamos lá, nenê?
-- Vocês podem nos dar mais privacidade, por favor, e terminar a discussão lá fora.
-- Não acredito, não posso acreditar nisso!
-- Nosso amor foi demais, demais.
-- Ela nunca conseguiu amar outro homem.
-- Eu a estava esperando para voltar para casa.
-- De que casa você fala?
-- Da minha, ué.
-- Mas a sua nunca foi dela. Aliás, nunca teve casa com você, só teve casa comigo.
-- Mas quase casa comigo, e de fato vivemos juntos muito tempo. Se a gente for contabilizar eu tenho mais direito do que todos vocês. Eu a conheço mais, e há mais tempo.
-- Mentira, você não representa nada, se eu fosse você nem teria vindo.
-- Está louco, não sabe nada sobre nossa intimidade. Ela não gostaria que eu faltasse.
-- O que ela não gostaria era de ter morrido, rapaz.
-- Também, mas se observarmos por outro ponto de vista, seria capaz de reivindicar minha presença.
-- Não entendo nada. Lamento muito que isso tenha ocorrido. Deus é injusto.

No de fato, meia dúzia de palavras, alguns olhares distantes, muito pesar e pouco frio. Finou-se.

domingo, janeiro 15, 2006

uma noite em claro
não é o mesmo que uma noite clara
nem que a clara da noite
menos ainda claro
é dizer que a noite está clara
que clara não é claro
meu caro

Da minha irmã

Sua característica, Elis, não é a duração, é a intensidade.
Olha só, sem querer, estamos falando de física.

sábado, janeiro 14, 2006

Fivela vermelha


No mármore rajado,
tão delicada,
a quase imperceptível
fivelinha vermelha

Lembrança da beleza
abandonada
na noite anterior.

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Sonho inoportuno

Assombração. Um vulto que sai e se veste. Incômodo. Não abre os olhos, não quer falar, não quer rir, não quer falsear nada. Colchão adentro. Sua cabeça pesa, pesa, pesa. Seu pensamento toma medidas desproporcionais. Imerge em sonho inquieto. Inseguro. Ele está ali diante dela, tão distante, tão distante. Está do outro lado da rua. Mal o vê. Inoportuno. Muito. Não há chamadas, o telefone não toca, ela não sabe onde ficar ou ir. Percebeu que não há caminhos, está tudo incerto. Sua família está distante, não do outro lado da rua. Está detrás, em uma casa, resguardada e sorridente. Ele ainda é um bebê e naquela hora dorme. Sonha, está em paz. Ele é um bebê em paz. Seu carro não sabe manobrar. Quase cai em um espelho d’água. O contorno é feito numa enorme coluna redonda. Não sabe de que é feita. Atenta espera. Dá marcha-ré, se livrou do espelho d’água. Sua família é melhor, sempre foi, é o que lhe traz felicidade e paz. Ele continua, ainda tarde do outro lado da rua. Está sentado diante dela, tão distante, tão distante. Um sonho infeliz. Incômodo. O rosto não pôde virar-se, cumprimentar, falsear. Não pode se relacionar com o mundo, o mundo é uma assombração.

quarta-feira, janeiro 11, 2006

Para Natércia, depois do seu convite

Domingo é o dia da maior saudade
De segunda em diante, o sentimento vai diminuindo
No sábado já estou completamente feliz
Para no domingo desabar diante do passado
Exposto nas intermináveis horas que compõem este dia.

What a difference a day made

What a difference a day made,
twenty four little hours
Brought the sun and the flowers
where there use to be rain

My yesterday was blue, dear
Today I'm a part of you, dear
My lonely nights are through, dear
Since you said you were mine

Oh, what a difference a day made
There's a rainbow before me
Skies above can't be stormy
since that moment of bliss
That thrilling kiss

It's heaven when you
find romance on your menu
What a difference a day made
And the difference is you, is you

Cantada por Billie Holiday
Letra e música de Maria Grever & Stanley Adams

Diálogos escatológicos XX: a leveza do Raul

Estava me olhando no espelho do banheiro, não sei se escovava os dentes ou pensava na morte da bezerra, só sei que entra Raul e me diz que quer fazer cocô. Deixo que ele faça tudo sozinho, além de ganhar autonomia, eu trabalho menos (sou um tantinho preguiçosa).

-- Tire a cueca Raul e sente na privada!

Nada mais se sentar, ele me sai com essa:

-- Mamãe, eu não penso como você!

Diante desta declaração, fico muda...não sei o que fazer.

-- Como é, Raul? Você não pensa como eu?
-- Não, mamãe, eu não penso como você.

Como já sei que uma frase como essa ele deve ter tirado de alguma situação bizarra, sigo o questionamento.

-- De onde você tirou isso, Raul? Que não pensa como eu?

Ele não soube me dizer, mas eu me lembrei exatamente o que havia acontecido:

Retirei a porta do meu banheiro, portanto, sempre que ele está no meu quarto pode ver o que faço. Outro dia, ele chegou, eu estava sentada na privada, e ele fez a pergunta de praxe:

-- Mamãe, você tá fazendo cocô ou xixi.
-- Estou fazendo xixi, Raul.
-- Mamãe, o teu xixi demora tanto, né?
-- Não, Raul, não demora. É como o seu.
-- E por que você passa tanto tempo aí sentada?
-- Ah, Raul, porque depois de fazer pipi, eu fico aqui pensando.

terça-feira, janeiro 10, 2006

espera

nervos
trago cigarro, fumaça
chopp gelado, especialidade da casa
mão trêmula, a comida cai
roupa suja de shoyo

o tempo livre
minhas urgências
desisto
meu tempo livre são
nervos, cigarro e tremor

não choro

Uma biblioteca é um hospital para o espírito.

Continuando a série: remédio para todos os males - uma citação para me dar suporte
(Inscrição da antiga biblioteca de Alexandria - dicionário de provérbios, sentenças e máximas, Larousse)

segunda-feira, janeiro 09, 2006

Bliss and kiss

Você não é nada trivial nem imberbe.

domingo, janeiro 08, 2006

Diálogos amorosos XIX: a eternidade do Raul.

Raul anda muito amoroso. Cada declaração enternece sobremaneira meu coração.

-- Mamãe, eu te amo para sempre, eu vou te amar a vida inteira, até o mundo inteiro se acabar.
-- Mas Raul, o mundo não se acaba, é a gente que se acaba.
-- O mundo se acaba sim, vai ser todo destruído. A gente não se acaba.
-- A gente se acaba antes do mundo se acabar. Quando a gente tiver 80, 90 anos a gente se acaba.

-- Mas, mamãe, eu não quero d-existir. Vou ser criança a vida inteira no mundo inteiro.

Raul, I's yo' woman now,
I's yours forever
Mornin' time an' evenin' time
an' summer time an' winter time
(ouçam Bess, you is my woman now cantado por Ella Fitzgerald & Louis Armstrong)

terça-feira, janeiro 03, 2006

1o monólogo de Dom Juan de Molière: uma apologia ao cigarro

Ato I
Cena 1
Sganarelle, Gusman


Sganarelle, segurando uma carteira de cigarro.

O que possa dizer Aristóteles e toda a filosofia, não há nada igual ao cigarro: é a paixão das pessoas honestas, e quem vive sem cigarro não é digno de viver. Não somente ele purga e redime os cérebros humanos, mas ainda leva as almas à virtude, e se aprende com ele a se tornar um homem honesto. Não vêem bem, desde que o pegamos começamos a usá-lo como todo mundo e como ficamos alegres quando podemos compartilhá-lo à direita ou à esquerda, em todo lugar onde podemos estar? Nem esperamos que alguém nos peça um, nos adiantamos ao desejo das pessoas: tanto é verdade que o cigarro inspira os sentimentos de honra e de virtude a todos os que fumam. Mas já é bastante sobre esse assunto. retomemos um pouco nosso discurso. Portanto, Gusman, Dona Elvira, tua madrasta, surpresa por nossa partida (...)


Acabo de ver um filme mexicano chamado NICOTINA. Muito interessante porque o destino dos personagens está relacionado com o ato de fumar. Todos morrem ou se dão muito mal, não por causa das substâncias tóxicas do cigarro, mas pelo inoportuno que pode se tornar em certas situações. Vale a pena vê-lo!

Hommage à Huis Clos - Sartre

A presença dos outros é embaraçante e o pior, necessária. Não podemos escapar, não há refúgio nem repouso.

Enquanto estamos vivos ainda temos o sono, depois de mortos nem isso para nos consolar.

A tediosa eternidade.

Volto a dizer: os livros, a leitura, a ficção é o que ainda nos salva. Remédio para todos os males.

domingo, janeiro 01, 2006

Ei doçura (Hey sweet man), morro de rir cada vez que escuto essa música

Hey sweet man
Who you give your lovin' to?
Hey sweet man
Who you give your lovin' to?
I gotta mind to love you
I'll love you through and through

Hey momma's child
Ain't you been waitin' for me?
Hey momma's child
Ain't you been waitin' for me?
I've gotta mind to love you
And my love won't leave you be

Hey sweet woman
I see you're searchin' too
Hey sweet woman
Ain't no man that love you
Hold on, pretty momma
Someday he'll be searchin' too

Well we need some lovin'
We need it oh-so-bad
We need some lovin'
We need it oh-so-bad

'Cause it's bad lovin', momma
It's the only thing we ever had

Madeleine Peyroux