quarta-feira, abril 19, 2006

Sob pressão

Sob pressão, eu não sei dar nada de mim. Nada.

segunda-feira, abril 10, 2006

No salão do nosso Castelo, de costas para mim, apoiado na lareira.

Sonhei que você chegava. Eu estava a me preparar para o encontro. Na cozinha, pela porta entreaberta, via-o entrar no salão, sentar-se no sofá e me esperar. Minha criada, num frisson sem medida e em meio a fofoca com as outras três criadas do Castelo, me dava os retoques finais para que eu me apresentasse da maneira mais bela possível.

Entrava na sala, sabia que elas me espreitavam para ver o desenrolar. Você se levantava do sofá Luís XV, dava voltas ao redor da mesa. Não me percebera. Nosso salão em estilo clássico era enorme. O pé direito alto guardaria o eco de nossas palavras. O teto trabalhado com detalhes em ouro, cenário quase barroco. Você se apóia na parede lateral da lareira. Vira-se e me vê. Nenhum sorriso, nenhum abraço esfuziante. Um olhar de preocupação. Minha timidez levou-me a abaixar a cabeça.

Outra vez vejo-o de costas, inexplicavelmente sem camisa. De forma simétrica, você tem bem embaixo das costelas duas manchas, como duas feridas enormes, cobertas por uma massa cinza que lembrava argila. Descobertas, bem em cima destas feridas, marcas de quem foi machucado cruelmente. Simétricas.

Sinto pena e dó. Tento saber a razão. Não há. Você não sabe, desconhece. Quero cuidá-lo. Meu ímpeto e amor vão apenas nesta direção. E isso é muito.

Acordei.

sábado, abril 08, 2006

Felipe

Eu tenho um amigo por quem sou alucinada. Costumamos relembrar o dia em que nos conhecemos. É o tipo do papo que surge todas as vezes que nos encontramos. Parece que agradecemos a existência desse dia. Parece que é isso. Só pode ser isso.

Eu tinha 13 anos e estudava no colégio Santa Cecília. Fazia a oitava série. Me sentava no canto direito da sala, na última carteira, isolada de todos os outros alunos da sala. As meninas, que poderiam ser minhas amigas, e que talvez tenham sido em algum momento, sentavam nas primeiras filas e possuíam estojos cheios de lápis e canetas coloridas da Disney.

Eu não possuía nada da Disney e como não possuía achava uma babaquice sair desfilando com aqueles bonequinhos fofinhos ou com aqueles lápis multicoloridos ou escrever bilhetes com aquelas canetas prateadas ou douradas que só serviam para aqueles papéis pretos de cartão de quinze anos. Acho que o único objeto comum que tinha com os demais da sala era um tênis da Redley, sem cadarço, super moda na época. Sinal de quem tinha algo de radical por dentro. Era o que parecia.

As aulas haviam começado, não sei se estaríamos na terceira semana já. No meio da primeira aula, vejo entrar dois rapazes. Um pouco constrangidos, levados pela mão do coordenador para dentro da sala de aula, esses meninos, de nomes André e Felipe, procuraram um lugar para sentar e como os únicos vagos eram os que ajudavam a isolar-me, essas duas peças se sentaram ao meu lado.

Eu não me lembro disso que estou contando. É assim que me conta o Felipe. Eu estou apenas reproduzindo. Me contam que eu era revoltada e tinha um cabelo encaracolado até a cintura. Disso eu me lembro. Fomos pouco a pouco nos aproximando e diante das afinidades nos tornamos amigos.

continuo amanhã...

terça-feira, abril 04, 2006

Sentimento menos nobre

Sentir saudade de você é meu estado permanente.