sexta-feira, dezembro 30, 2005

Tenho dois amores

Tenho dois amores
Meu país e Paris
Por eles sempre
Meu coração é feliz


Trecho traduzido de J'ai deux amours, chanté par Madeleine Peyroux.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Diálogos ensaboados XVIII: a lógica do Raul

Raul e eu tomávamos banho. Ele adora sabonetes. Perguntou-me se o meu tinha aquele cheirinho de mel. Eu lhe disse que esse havia acabado, o da vez era de aveia. O dele, de glicerina, é seu preferido. Contou-lhe o pai que não arde nos olhos.

-- Mamãe, mamãe, deixa eu passar um sabonetinho no fio do teu cabelo?
-- Não, Raul, sabonete no cabelo não!
-- Por que não?
-- Porque o sabonete do cabelo é o shampoo!
-- E o sabonete é o shampoo do corpo - me respondeu.

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Remédio para todos os males

Leitura.

Você está muito pensativa

Minha mãe chegou a minha casa por volta do meio-dia. Veio fazer alguns consertos e me ajudou a colocar dois lustres na casa. Enquanto costurava meu sofá, falava sobre suas coisas e eu a olhava fixamente. Ela me disse: você está muito pensativa, minha filha.

Eu, completamente no mundo da lua. Tem acontecido muita coisa comigo este fim de ano. E todas elas pedem que eu me decida.

Por quê?

Lástima

Ainda lamento muito tudo o que me aconteceu. Poderia ter sido diferente?

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Manderlay

Havia algum tempo que não levava uma advertência tão contundente. O filme é o melhor do gênero que já assisti nos últimos anos. Lars von Trier é um gênio, sem dúvida. Seu filme é um tratado filosófico. Impossível perdê-lo. Im-pos-sí-vel.


Diretor em entrevista no site oficial do filme

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Turmalina

Não é azul, a cor do imenso mar é verde.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Partir pour attendre ailleurs




Une incertitude, toi, une impatience, moi. Attendre.



Un regard, toi. Un sourire, toi. Attendre.


Esse conjunto do W. Hoffacker, Érica, me lembra tua drobapura (R)

domingo, dezembro 11, 2005

Resposta ao Tempo

Interpretada por Nana Caymmi (clique no título para ouvi-la)
A Fátima Santos canta muito bem às quartas lá no Bebedouro
Composição: Aldir Blanc/Cristovão Bastos

Batidas na porta da frente é o tempo
Eu bebo um pouquinho pra ter argumento
Mas fico sem jeito, calado, ele ri
Ele zomba do quanto eu chorei
Porque sabe passar e eu não sei
Um dia azul de verão, sinto o vento
Há folhas no meu coração é o tempo
Recordo um amor que perdi, ele ri
Diz que somos iguais, se eu notei
Pois não sabe ficar e eu também não sei
E gira em volta de mim,
sussurra que apaga os caminhos
Que amores terminam no escuro sozinhos

Respondo que ele aprisiona, eu liberto
Que ele adormece as paixões, eu desperto
E o tempo se rói com inveja de mim
Me vigia querendo aprender
Como eu morro de amor pra tentar reviver
No fundo é uma eterna criança
que não soube amadurecer
Eu posso, ele não vai poder me esquecer
No fundo é uma eterna criança
que não soube amadurecer

Lápis lázuli

O que será que vai me dizer
Todo o azul que emana de você?

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Sabedoria de Saint-Exupéry para corrigir provas e trabalhos.

É necessário exigir de cada um o que cada um pode dar.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

Diálogos matemáticos XVII: as proporções do Raul

- Mamãe, mamãe
- Diga, meu amor.
- Mamãe, mamãe. Dez é muito ou é pouco?
- Depende.
- Depende? e não pára de rir - meu filho acha uma graça quando respondo com alguma palavra diferente da pergunta. Continuo:
- Quer ver? Se eu tenho dez cabelos, isso é muito ou é pouco?
- É pouco. Ri.
- Mas se eu tenho dez casas, é muito ou é pouco?
- É ...
- É muito, a gente só precisa de uma casa, não é?
- É.
- E se você tiver dez reais?
- É pouco.
- E se você tiver dez escovas de dente, é muito ou é pouco?
- É muito.
- E dez mochilas?
- É muito.
- E se você tiver dez livros?
- É pouco.
- E dez geladeiras?
- É muito – ele cai na gargalhada.
- E se você tem dez carrinhos, isso é muito ou pouco?

Ele pára e me olha pensativo.

- É suficiente, Raul. Dez carrinhos dá para brincar 1 milhão de vezes. Sigo com o questionamento:
- E brincar um milhão de vezes, é muito ou é pouco?
- É muito, mamãe.

segunda-feira, novembro 21, 2005

terça-feira, novembro 15, 2005

Noite dos descarados



Ele:
Quem é você?

Ela:
Adivinhe, se gosta de mim

Os dois:
Hoje os dois mascarados
Procuram os seus namorados
Perguntando assim:

Ele:
Quem é você, diga logo

Ela:
Que eu quero saber o seu jogo

Ele:
Que eu quero morrer no seu bloco

Ela:
Que eu quero me arder no seu fogo

Ele:
Eu sou seresteiro
Poeta e cantor

Ela:
O meu tempo inteiro
Só zombo do amor

Ele:
Eu tenho um pandeiro

Ela:
Só quero um violão

Ele:
Eu nado em dinheiro

Ela:
Não tenho um tostão
Fui porta-estandarte
Não sei mais dançar

Ele:
Eu, modéstia à parte
Nasci pra sambar

Ela:
Eu sou tão menina

Ele:
Meu tempo passou

Ela:
Eu sou Colombina

Ele:
Eu sou Pierrot

Os dois:
Mas é carnaval
Não me diga mais quem é você
Amanhã, tudo volta ao normal
Deixe a festa acabar
Deixe o barco correr
Deixe o dia raiar
Que hoje eu sou
Da maneira que você me quer
O que você pedir
Eu lhe dou
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser
Seja você quem for
Seja o que Deus quiser

sexta-feira, novembro 11, 2005

Uma vez lá, impossível achar o caminho de volta

Impossível achar o caminho de volta. Tento, procuro, invento.
Não saio mais.

Por quê?

Será que é o melhor e mais bonito local que jamais pude encontrar? O que há nele que me paralisa e me embrutece tanto que meus olhos não sabem mais buscar outro horizonte? Quantos já estiveram em minha situação? O que foi feito destes seres cuja alma já não lhes pertence? Tomaram rumo próprio e já não obedecem nenhum desígnio da razão?

Meu destino está parado. Daqui eu não saio. Nunca mais.
Improvável achar o caminho de volta.

Eu quero?















Ver: Journal Photographique de Wilfrid Hoffacker

"Quand on s'en va pour la première fois, on ne sait pas comment se retourner."

Didier van Cauwelaert

segunda-feira, novembro 07, 2005

Dance: não há nada a ser revelado



No domingo passado, entrei numa sala. Tive de me desvencilhar de dois grandes panos em forma de cortina que me impediam ver o que havia no interior. Quase como quando se entra numa câmara escura. Estou acostumada a entrar num laboratório fotográfico: fecho a primeira porta, estou numa ante-sala; abro uma segunda porta, entro finalmente no recinto. No laboratório, sei que só não posso acender as luzes quando estão revelando alguma fotografia. Naquela sala, onde havia uma instalação, chamada de Terra Incógnita: Fortaleza, as portas eram os tais panos negros e dentro não era possível acender as luzes mesmo que não houvesse foto a ser revelada. O que havia lá dentro?

Uma sensação estranha invadiu-me. Um certo temor, uma cegueira repentina me paravam o tempo inteiro. Meu olho humano, habituado a enxergar, via vultos, muitos vultos. Mesmo assim, não me contive. Meus braços davam voltas, tentavam contornar o ambiente e quanto mais eu me movia, mais eu percebia que o som, vindo de caixas espalhadas por todo o lugar, se modificava conforme meu comportamento. Tentei ficar quieta. Vencer a programação da instalação. E de repente, um grito estrondou em meus ouvidos. Vasculhei tudo, levei sustos, temia esbarrar em alguém. Muito provavelmente não havia outro vulto naquela sala, senão o meu. Meu coração disparou, não pensei em continuar. Desisti de sair, estava diante da única e última oportunidade de tentar perceber o sentido daquilo tudo. Preferi ficar e enfrentar as sombras. Comecei pouco a pouco a distinguir as partes do ambiente. Já não estava perdida. Sabia onde era a saída e tinha a consciência de estar só. No entanto, não pude frear a sensação de pensar que ali outros estavam como eu, perdidos em um espaço de vozes e ruídos que murmuravam e berravam, sem um ritmo, aleatoriamente.

Não pude deixar de continuar dentro da câmara escura, e esta continuidade implicava o tempo todo a alteração das relações entre o vulto perdido, o espaço disforme e os sons que vinham de pontos diversos e se apresentavam inesperados. Pude compreender por uma forte experiência sensorial aquilo que conhecia teoricamente, através do pensamento de Saussure sobre a linguagem, que diz que “a continuidade da língua implica necessariamente a alteração, o deslocamento mais ou menos considerável das relações”.

A instalação é uma forma menos usual de interação do que as línguas humanas. Mas aqueles sons eram de vozes pronunciando palavras que, isoladas e em situação de comunicação numa cidade de fato, poderiam fazer alguém correr, dormir, desistir, inventar, construir ou agir simplesmente como uma resposta ao que se ouve. Entretanto, quem esteve lá não pôde ter nenhuma dessas reações cotidianas, porque as palavras não estavam para significar, porque, diferentemente do laboratório fotográfico, não há nada a ser revelado. Só era preciso dançar um pouco.

Minha razão não quis entender esta instalação. Dentro daquele local, não me lembrei do título que levava a peça. Pouco me importam os títulos, minha idéia inicial é de que as coisas farão sentido por si sós, e é aí que me equivoco ou que nos equivocamos (caso alguém compartilhe comigo das mesmas idéias). Nada faz sentido por si só. Nada. Já sabemos desde muito tempo que não há substância, só há forma. Mesmo assim continuamos com esse impulso natural por buscar conhecer indefinidamente o significado das nossas ações no mundo ou de uma obra de arte. Não há significado para obras de arte. Não nelas. Há, depois, discurso sobre elas, como esse que acabei de escrever.

segunda-feira, outubro 31, 2005

Morro de preguiça de cuidar de mim

Detesto lavar os cabelos; passar creme no corpo; escovar os dentes; vestir pijama; calçar um tênis; fazer ginástica; ir ao cabeleireiro; ter unhas grandes; usar soutien; trocar de modess; me depilar; ir a um shopping; provar uma roupa; escolher um sapato; cortar as unhas; beber um copo d’água; ter de me assoar; me enxaguar; ficar ereta; trocar de brinco; tirar e voltar a colocar um simples colar; ser gente grande; ter de viver todos os dias, perdendo meu tempo com essas tarefas que, se não fosse a civilização asseada, juro para mim que jamais as faria.

Gente dissimulada

Odeio gente que não sabe o que faz
Não sabe que número ligou
Não sabe que dia é hoje
Não sabe que horas são

Odeio gente que esquece o que diz
Esquece da sua opinião
Esquece da sua promessa
Esquece de um compromisso

Odeio gente que confunde os nomes
Confunde as chaves
Confunde a vaga
Confunde os quartos

Odeio gente dissimulada.

Quase não acredito que tudo isso
possa acontecer a alguém
Mas se isso acontecer realmente,
Não odeio a essa gente.

Plágio

Não há razão no amor
Essa frase não era minha
Mas passou a ser, agora.

terça-feira, outubro 25, 2005

Un año sin ti

Un año sin ti.
Pasaran muchos más,
yo seguire sin ti,
no hay dudas.


Tampoco esperanza.

Yo

Mi cuerpo es sano
Mi mente, abierta
Mi vida, reglada
Mi hijo, tranquilo

Mi jefe es bueno
Mi madre, una flor
Mi padre, bendición
Mi casa, soleada

Mi cielo es limpio
Mis arboles, fructiferos
Mis amigos son majos
Mis colegas, dedicados

Todo es tan bonito
Me parece tan perfecto
Todo lo que tengo es
Todo lo que me falta

Mi corazón es pequeño.

Me llevabas a tu pueblo

Me llevabas a tu pueblo
A mirar el más bello cielo
cuantas estrellas yo veía
Casi siempre una fugaz

Sabes lo que yo pedía
Tres deseos, mi derecho
Te miraba y solo para mí
Me decía bien bajito

Quiero ser feliz contigo
Quiero ser feliz contigo
Quiero ser feliz contigo

En tantos otros pueblos
Una docena de fugaces
Siempre el mismo deseo

segunda-feira, outubro 24, 2005

Ando Cândida com sorte

Quase que diariamente me acontecem as melhores coisas que jamais me puderam acontecer. É que faço um esforço enorme por me tornar, cada vez mais, a mais ingênua das criaturas do mundo. Vivo no melhor dos mundos possíveis.

sexta-feira, outubro 21, 2005

Eu subi na vida - Há um mês algo mudou

Saí do 2º e fui para o 5º.
Era da direita e sou da esquerda.
Mudei do poente para o nascente.
Troquei o fixo pelo móvel.
Deixei o pago pelo de graça.
Larguei o limpo e peguei o sujo.
Apaguei o bom, revelei o ruim.

E quero mais.

Natércia não soluça, , , , , mas escreve muito e bem

Sabe, Natércia, quando leio suas histórias tenho vontade imensa de ter tempo para viver e perceber o mundo. Este mundo seu, todo construído em primeiríssimo plano. Excelentes seus textos. Parabéns!

segunda-feira, outubro 17, 2005

Diálogos adulterados XIV: o literal do Raul

Desde às 10h da manhã fora de casa, depois de percorrer pelo menos uns cinco lugares diferentes, morrendo de vontade de chegar em casa, eis que meu lindo filhinho me diz:

Mamãe, mamãe, mamãe!
Diz, Raul!
Vamos lá no tio Ricardo, vamos!
Vamos sim, Raul! Mas vamos dar só uma palavrinha com ele, certo?
Tá bom, mamãe. Só uma palavrinha.
E qual é a palavrinha que a gente vai dar, Raul?
Humm...vou dizer ao tio Ricardo: fui passear.

Já na casa do tio Ricardo e da tia Fran, Raul nem se lembrou da palavrinha. Queria era brincar de voar como um passarinho naquele imenso terraço.

segunda-feira, junho 27, 2005

Novas e velhas no Blogger

Se você chegou até aqui, acesse www.reverberar.blogger.com.br, meu antigo endereço.